capítulo doze

Há 9 anos o dia 11/10 costumava ser um dia muito especial pra mim. E hoje toda minha expectativa era de também ter um dia maravilhoso, acordar ao lado homem que eu amo e que jurei que me amava também, a noite jantar em um bom restaurante e depois comemorar debaixo das cobertas de um bom hotel com vista para o mar.

Mas, dessa vez, justamente no 9º ano acordei bem diferente, quando abri os olhos parecia que todo o peso do mundo estava sobre a minha cabeça, quando me olhei no espelho fiquei horrorizada com as minhas olheiras, aproveitei e tomei um banho bem gelado pra ver se dava uma despertada e lavei meu cabelo. Quando sai vi no relógio que já passava das 13 horas, pelo menos o remédio tinha me apagado. Fui ver meu celular e tinha mensagem do meu irmão falando que já sabia de tudo e que em casa nós conversávamos, mas que ele me amava e que já estava voltando. Fiquei pensando se ele tinha contado pros meninos, pensei no Junior até, deveria ter beijado ele, pelo menos poderia dizer que traí o Guilherme um dia. Só de lembrar dele me dava vontade de chorar de novo.

Olivia: Olha quem acordou - veio me abraçar enquanto eu terminava de descer as escadas - dormiu bem amor?

Giulia: dentro do possível sim - suspirei - você falou com o Pedro mãe?

Olivia: falei filha, ele precisava saber e vocês tem toda conexão de gêmeos - sorriu - vai ser bom quando ele chegar em casa - passou as mãos no meu cabelo

Giulia: sim, verdade. Acho que vou comer algo, to morrendo de fome

Olivia: Seu pai tá lá na cozinha terminando de fazer aquele filé mignon ao molho madeira do jeito que você ama, vamos te mimar hoje - sorriu e fomos juntas até a cozinha

Giulia: Bom dia pai - abracei ele por trás que cozinhava

Marcelo: Bom dia meu amor - eu sempre fui muito mimadinha pelo meus pais, amo - to fazendo tudo que você ama hoje, quero te ver sorrindo

Fiquei ali na cozinha conversando com eles e depois comi o almoço que eles tinham preparado pra mim. Eu tinha muita sorte de ter eles na minha vida porque em momentos assim é sempre bom ter alguém como porto seguro e eles com certeza são o meu.

Depois que terminamos fomos assistir um filme que estava passando na tv e no final da tarde disse a eles que ia até a praia pra tomar um açaí. Precisava respirar, ver o mar sempre me acalmou, o por do sol, então seria uma boa pra mim.

Sai do meu condomínio, andei uns 10 minutinhos e já estava na praia da Barra, comprei meu açaí favorito no Quiosque do Vidal e fui até um cantinho mais vazio da praia, estendi uma canga ali na areia e sentei olhando pro mar. Esse foi o primeiro momento do dia que me permiti sofrer e deixei as lágrimas caírem, fiquei pensando o porquê disso ter acontecido comigo, será que fui eu quem errei? Será que a culpa era toda minha? Fiquei ali encarando o mar e refletindo sobre tudo, até ser interrompida por uma voz muito conhecida por mim

Guilherme: Não sei porque, mas eu sabia que ia te encontrar aqui - disse com uma voz serena e eu olhei pra trás assustada encarando ele, sequei minhas lágrimas e pude reparar que ele também parecia um pouco abatido

Giulia: Eu já não disse que não quero nenhum tipo de contato com você? - disse enquanto me levantava

Guilherme: Giu, calma ai - segurou minha mão e eu me afastei rapidamente - eu só quero me explicar, por favor, me escuta

Giulia: O que eu vi não precisa de explicação nenhuma, vai me explicar o que? Como é o processo do sexo?

Guilherme: É sério po - suspirou - não fica na defensiva, você não é assim, te conheço. É só uma conversa

Giulia: Fala rápido então - disse impaciente

Gui: Senta ai, namoral - insistiu e eu sentei na canga de novo, mas afastada dele, não queria contato e ele ficou só me olhando

Giulia: To esperando, vai falar ou vai ficar me olhando?

Gui: Então, meu lance com a Rebecca começou um pouco antes daquela social lá na sua casa, ela tava bebada numa festa, eu vi, fui ajudar e ela acabou me agarrando. Tanto que naquele dia lá na sua casa, ela foi atrás de mim, mas não rolou nada. Mas ela continuou insistindo, insistindo e eu não resisti

Giulia: E você acha que isso que você tá me falando muda o quê? Muda o fato de você ter comido ela, pelo visto mais de uma vez e por sei lá mais de 01 mês?

Gui: Eu to te mostrando que eu sou vítima tanto quanto você dessa situação - quando ouvi isso minha reação foi dar uma risada a contragosto

Giulia: Então você tá me dizendo que ela te obrigava a foder ela? É isso? - perguntei desacreditada

Gui: Eu só to te mostrando que eu fui fiel a todo custo, mas no final não consegui resistir e você tem culpa nisso também

Giulia: Eu? - gritei - você tá maluco?

Gui: Inventou de mudar pra São Paulo, fica viajando pra Paris, deixou seu namorado sem assistência né? Sou homem, tenho minhas necessidades

Giulia: Acho que isso foi a coisa mais escrota e machista que eu já ouvi. Eu tenho culpa da sua fraqueza agora? - indaguei - o que eu era pra você? namorada ou uma boneca inflável? Só servia pra foder?! Só isso?

Gui: Não distorce o que eu falei, Giulia - quis vir pra cima de mim, mas me afastei - você sabe que você tem culpa nisso sim, não deu assistência, nesse seu jeito boazinha, sem graça

Giulia: A única culpa que eu sinto agora foi de não ter te traído quando não tive oportunidade, seu merda - me levantei - deveria ter colocado uns chifres na sua cabeça, isso sim

Gui: Duvido alguém gostar de você como eu gostei, Giulia. Aturar suas neuras, suas chatices e manias. Duvido

Giulia: Tá perdendo seu tempo aqui porque então? - puxei minha canga e enrolei de qualquer jeito na bolsa - espero não te ver de novo nem tão cedo, já que eu sou tão merda assim como você diz, não me procura mais - me virei e sai andando de volta pra casa meio atordoada com essa conversa, o Guilherme sempre tentava colocar em mim a culpa por tudo de ruim que acontecia. Como assim? A culpa dele me trair era minha? O pior era que minha mente me traía e eu acreditava nas coisas que ele falava, será que o problema era comigo?

Entrei em casa e quando vi minha mãe, me aconcheguei no colo dela e voltei a chorar, contei tudo que tinha acontecido na praia e ela falando que eu tinha que me afastar dele de uma vez por todas e isso que ele estava fazendo comigo era tortura psicológica, como uma forma de aliviar a culpa dele e fazer com que eu me sinta mal. Quando deu umas 19 horas meu irmão chegou e já veio direto falar comigo, ficamos abraçados por um tempo sem dizer nada, eu só chorei baixinho no seu ombro e pude sentir que ele chorou também, nós tínhamos uma conexão surreal, minha mãe dizia que era coisa de gêmeos.

Giulia: obrigada Peu, seu abraço me faz tão bem - sorri de leve - te amo muito, muito

Peu: Eu te amo muito Juba, vou cuidar sempre de você

Giulia: Desculpa pelas vezes, sei que foram muitas, que você me alertava e eu não te escutava, eu sou uma ridícula - choraminguei

Peu: sh sh - passou a mão nos meus cabelos - você não tem culpa de nada Jubinha, a culpa é toda dele, só dele

Incrível como meu irmão conseguia me fazer bem só de estar perto, ficamos conversando, contei a ele o que houve na praia e ele tava possesso de raiva, eu tava até com medo do dia que o meu irmão encontrasse com o Guilherme, ia rolar sangue, certeza. Mas depois do estresse, ele ficou me contando de outras coisas, querendo me distrair mesmo, falando do que eles fizeram em Paris depois que fui embora e tudo mais, disse, ainda, que o Junior acabou ficando sabendo do meu término e do que tinha acontecido, e que ficou muito preocupado comigo também.

Por volta das nove da noite foi a vez da Madu chegar lá em casa, jantamos todos juntos e depois nós duas subimos pro meu quarto, contei tudo de novo pra ela, que continuava incrédula

Madu: Amiga, depois que você me ligou, eu mandei uma mensagem tão grande pra Rebecca, esculachei demais, eu jamais esperaria algo assim dela - suspirou - nós crescemos juntas como irmãs

Giulia: Deixa eu ver o que você mandou - ela me mostrou e eu li tudinho, namoral a Madu falou tudo que eu queira falar e na hora não consegui - e que resposta foi essa? Se você quiser te explico pessoalmente?

Madu: Né? Nem coragem de falar nada teve. E cara, eu sai algumas vezes com ela e encontram ele e não desconfiei de nada, eu to assim me sentindo uma otaria

Giulia: Imagina eu estão amiga - continuamos conversando e eu contei à ela o que houve na praia

Madu: Giulia, olha só - segurou na minha mão - eu sempre te disse isso, esse cara é tóxico, esse tipo de relacionamento que vocês levavam e tudo isso que ele te falou só comprovam isso. Ele quer te diminuir, te fazer se sentir uma merda, a grande culpada por tudo, mas você não tem culpa de nada, entendeu? - assenti - você é vitima da situação e nada mais, só vitima

Giulia: Eu sei, pra mim é muito difícil enxergar isso, mas eu vou tentar

Madu: Você deveria procurar um terapeuta ou uma psicóloga quando voltasse pra São Paulo, amiga, ia te ajudar muito a entender melhor esse relacionamento que você viveu, ia te ajudar na autoestima também

Giulia: Você tem razão, não tinha pensado nisso - sorri - vou correr atrás disso ai - continuamos conversando um pouco quando meu celular apita avisando que tinha mensagem - pega ai amiga - pedi já que meu celular tava na cabeceira no lado que ela tava deitada

Madu: hmmm Neymar Junior - disse olhando a notificação - abre abre - dei um soquinho nela

Giulia: para de ser boba garota - disse rindo enquanto abria o whatsapp

Neymar Jr

Oi Giu

Ontem acabei sabendo do que houve

Queria dizer que se você precisar de um amigo pra desabafar to aqui tá?

Sei que agora você tá meio pra baixo, mas depois vai passar

Tenho certeza

E esse cara não te merece, você era boa demais pra ele.....

Sorri involuntariamente lendo a mensagem e a Madu ficou me zoando, respondi logo

Oi Junior

Pse 😕 tenho nem o que falar na verdade

Mas muito obrigada pela preocupação

Sei que é verdadeira

Pode deixar que eu falo sim

Obrigada pelo carinho

Que nada, sei que agr deve tá barra

Mas vai passar

E somos amigos é?

Sirvo pra isso 😂🤣

Pse, quis virar meu amigo vai ter que aturar 🤷🏻‍♀️🤷🏻‍♀️

Obrigada mesmo

❤️❤️❤️

Que isso ❤️❤️

E bem vinda à solterice 🤣🤣

Madu: me mostra, deixa eu ver - disse puxando o celular da minha mão - AAAAA - berrou - olha isso, “bem vinda à solterice”, esse cara quer te pegar gostoso Giulia

Giulia: para com isso garota - puxei o celular de volta - ele só ta sendo legal

Madu: até parece né Giulia, tipo a preocupação dele pode ser genuína, vocês podem estar amiguinhos, mas na primeira oportunidade que pintar ele tenta de pegar

Giulia: Isso ele meio que já tentou - confessei pra ela que ficou eufórica e eu comecei a contar tudo que tinha acontecido durante minha estadia em Paris

(...)

No domingo a noite voltei pra São Paulo, voltar pra casa e ficar sozinha foi um choque pra mim porque tinha sido tão mimada nas últimas horas que o fato de ficar sozinha me assustava, mas eu sei que precisava seguir em frente. Na segunda assim que cheguei no escritório consegui a recomendação de uma psicóloga e fui atrás de marcar uma consulta, assim como eu tinha combinado com a Madu no sábado. Consegui um horário pra quarta feira logo depois do expediente.

Os dois primeiros dias da semana passaram rapidinho, tentei seguir a vida da maneira que pude, algumas pessoas ficaram sabendo do meu término e vieram falar comigo, não sabia que tanta gente era contra assim, porque não faltaram comentários negativos, mas também recebi muito apoio dos meus pais, irmão e amigos próximos, principalmente da Madu, óbvio, e do Junior que conversava muito comigo, o que me ajudou bastante.

Mas a primeira vez na semana que me senti bem de verdade foi quando sai da psicóloga, ela tinha me falado tanta coisa legal, feito eu enxergar as coisas de um jeito diferente que pela primeira vez em muito tempo eu cogitei realmente ter vivido um relacionamento abusivo. Muitas pessoas falavam isso pra mim, mas eu não conseguia enxergar, sabe? Ela me disse que seria um processo, mas que depois eu conseguiria ver tudo com clareza. Acho que seria ótimo pra mim, tinha ficado animada com aquele encontro.

Mais cedo a Rafaella tinha me enviado uma mensagem me chamando pra comer pizza no apartamento dela, acho que o Junior tinha comentado algo sobre o meu término, sei lá, mas aceitei, já que eu precisava urgentemente fazer amizades em São Paulo.

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Declaro oficialmente iniciada a fase 2 da nossa fic, ainda teremos sofrimento, óbvio, porque tudo é um processo, mas também teremos o tempo da Giulia se redescobrir ❤️
To muito feliz com os comentários de vcs, tanto elogiando a história quanto a minha escrita, fico muito feliz!
Continuem comentando bjbj

Vou tentar terminar de escrever e voltar amanhã, mas se não conseguir, feliz páscoa pra vocês!

Meninas, nunca esqueçam que vocês são fodas demais pra se submeter a esse tipo de relacionamento ❤️❤️